Opinião

Boomerang

Há quem entenda que não votar é uma forma de castigar os políticos. O argumento é simples: “não vou votar porque são todos a mesma coisa e só se lembram de nós quando há eleições”. Essa ideia parte de uma visão divisionista da sociedade. De um lado nós e do outro eles, sendo estes, obviamente, o alvo a abater. Parte, também, do original conceito de que o voto é um favor que se faz a quem concorre às eleições. Como se em causa não estivesse o futuro coletivo, mas, apenas, os interesses de um grupo de privilegiados. Como se a democracia fosse um jogo de sombras no qual os eleitores são meros peões. Esse desinteresse, embora legítimo, traduz, na prática, a recusa em participar no jogo democrático, e, em última instância, a desresponsabilização de quem acha que a culpa é sempre dos outros, mas depois, no dia de votar, prefere ficar no sofá porque eles – os outros - não merecem o esforço. No dia seguinte, são muitas vezes os primeiros a queixarem-se. Vale que a democracia é o único regime que, afinal, tem um efeito boomerang. Volta sempre a dar a oportunidade mesmo a quem tanto a despreza.